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A vida precisa de tempero, e de cor!
Um dia na tua família… do ponto de vista do teu animal de estimação*
Será que falta muito para a dona sair para trabalhar? Mal posso esperar para me esgueirar lá para dentro para a cama da dona mais nova. Se o dono me deixar entrar como já é seu costume…ele vai levá-la ao trabalho e não são raras as vezes em que me deixa entrar.
Desculpem, nem me apresentei. Sou a “Melas”, diminutivo de ramelas. Sou uma gata tricolor e pertenço à 4.ª geração de gatos nascidos nesta casa. Por isso nasci com um problema nos olhos. Ninguém dava nada por mim. Foram os mais novos que trataram de mim e me limparam os olhos todos os dias…Mas vamos lá a um dia de aventura aqui em casa.
Quando a dona sai, o dono deixa-me entrar em casa. Vou de mansinho e salto para a cama da dona mais nova, aninho-me ali por cima da manta junto às pernas dela ou ao pé da cabeça. Espero que ela nem perceba que estou ali porque senão quer puxar-me e fazer festas, e isso é coisa que hoje não me apetece.
Ficamos as duas a dormir e quando ela se levanta também para ir trabalhar, sigo-a e fico à espera dela na porta da casa de banho. Ela vai tomar o pequeno-almoço depois. Há de chegar qualquer coisa para mim. Fiambre, queijo, mmmm maravilha.
Depois de todos saírem para trabalhar fico nas redondezas, a passear, caçar se me der fome e se estiver sol estendo-me no quintal…
Ao fim da tarde chegam todos, uns com mais pressa, outros nem tanto. Enquanto a dona trata do jantar vou-me enrolando nas pernas dela a ver se a convenço a fazer-me uma festa, ou a ir dar-me comida. Tenho sempre fome. Mas ela não facilita. Não me liga nenhuma.
Os mais novos chegaram. É hora de mimo. São capazes de estar um tempão a fazer-me festas. Ronrono de felicidade. Na hora de jantar deixo-me ficar debaixo da mesa sossegada enquanto jantam e conversam. Dão-me sempre algo para comer.
A minha parte favorita do dia é quando vão para a sala, ver televisão. Aninho-me num colo, ou junto das almofadas e ali fico a dormir. O que mais gosto é que sinto que estou mesmo em casa.
*Neste momento não tenho nenhum animal de estimação, mas já tive alguns em casa dos meus pais e este texto vem dessas memórias.
Já chegamos? Já chegamos?
Verão de 2014. Era a segunda vez que organizávamos a nossa viagem de férias todos juntos. 6 amigos que tinham sido muito felizes o ano anterior numas férias nas ilhas canárias.
Gostamos de praia. Fazer o quê? E de hotéis com tudo incluído. Tardes de piscina e copos e conversas, ora sérias, ora parvas.
Mas não íamos repetir o destino. Por coincidência um amigo casaria em Lisboa, pelas mesmas datas. Então, porque não juntar as duas coisas? Assim foi. Para poder conseguir tudo aos melhores preços (que a malta das ilhas paga caro para sair) reservei tudo num site daqueles que agregam tudo: voos, hotéis, transferes…e aqui está o busílis da questão…
Como a malta é poupadinha, optei pelo transfere mais barato. Autocarro. Partilhado por muitas outras pessoas que iam para outros hotéis em Palma. Se em Canárias aquilo demora uma hora e pouco, em palma não poderia demorar muito mais. Pois…só que escolhemos um hotel da cadeia RIU, porque era o que já conhecíamos…e então achámos por bem não arriscar outro.
O autocarro estava cheio. Uma hora depois olhávamos uns para os outros: Já chegamos? Parece que ainda não. Duas horas depois e ainda sem ter deixado nenhum passageiro em nenhum hotel …Já chegamos? Ao fim de duas horas e meia lá começamos a deixar gente…em hotéis. Fazíamos com cada desvio. Bem, a coisa começava mal. Mas também…não poderia faltar assim tanto, pois não? Três horas. Já chegamos? Será que nos enganamos? Não pode ser, tinham lá o nosso nome…Quatro horas. Já chegamos? Mas afinal vamos dar a volta à ilha para chegar ao hotel? Cinco horas, cinco horas. Já chegamos? Já chegamos? Finalmente chegamos.
Mas porque não se vê logo o hotel? Que fim de mundo. Andamos mais um bocado, já depois de ver a placa. Casas pequenas de um lado e de outro. Era isto o hotel. Já chegamos? Já chegamos? Ufa ao menos ali está a receção. E que casas nos deram? Umas que ficavam bem no topo do empreendimento, longe da receção. Arrastamos as malas todos rabugentos uns com os outros e eu desejosa de desaparecer…afinal era eu que tinha reservado…sem sequer ver o tempo que demorava o raio do transfere. Já chegamos? Já chegamos? Ah , parece que são ali. Entramos…porra tinha de me calhar o quarto com a cama partida?? Mas ao menos já chegamos! E no fim as férias foram como sempre quando estamos com amigos. Ótimas!
(Acordaste nu, sem te recordar de nada, numa ilha deserta )
Tenho frio, tento puxar a manta,
Não percebo, mas que raio aconteceu?
Abro os olhos e vejo areia, é tanta!
Não consigo entender onde estou
Que dia é hoje ou como aqui cheguei,
Não me lembro de nada do que se passou!
Uma coisa é certa, não gosto de dormir nua
Pelo menos umas cuecas,
Não vá ter de me levantar e sair disparada para a rua!
Gosto da ideia da ilha deserta
Mas preferia acordar acompanhada
Ia haver diversão na certa!
Fecha os olhos. Relaxa. Imagina que tens à tua frente um caminho estreito, ladeado de árvores. Vais caminhando, absorvendo o ar puro, apreciando as cores da natureza à tua volta, a beleza da copa das árvores e sente os raios de sol que te vão acarinhando ao longo deste passeio. O trilho é de terra batida e está coberto de ervas. Quanto mais avanças, mais te embrenhas nesta floresta, onde sem saber bem porquê te sentes tranquila…
No fim do trilho há uma clareira. Ao te aproximares percebes que está lá alguém, que pelo tamanho só pode ser uma criança. Ela vira-se para ti. O seu rosto é familiar, estás a ver-te pequenina, criança. O que é que dirias àquela criança?
Primeiro, sorrio. Depois volto lá, àquele tempo em que, pequena, já me sentia pouco merecedora de coisas boas…O sorriso dá lugar às lágrimas, e não consigo parar. Digo(-me): mereces ser feliz, mereces coisas boas! Gosta de ti. E sorri. És especial, como cada indivíduo e nunca penses merecer menos, ser menos. Gosta de ti, e Sorri. A vida vai dar-te coisas boas.
*Este post é a transcrição pequena de uma meditação que fiz há tempos, portanto é real…
Hoje tenho dores de cabeça. Tenho de ir à Farmácia comprar comprimidos. Uma caixa deles, mesmo que agora só precise de um. Nem sempre precisei de ir à farmácia. Era só preciso ir à venda dos meus avós.
Na venda (Tradução para mercearia em "madeirense") do meu avô vendia-se um bocadinho de tudo. Até medicamentos. Sim, que sou dotempo em que as farmácias não estavam assim à mão de semear e as pessoas não compravam caixas de ben-u-ron para ter em casa , just in case. Nada disso. Aviava-se uma receita quando se ia ao "doutor". Em caso de dores súbitas, havia a venda.
Dentro de uma das vitrines havia uma lata retangular com tampa (tipo caixa de biscoitos de manteiga) com umas flores da parte de fora, já meia ferrugenta de antiga que era. Quando se abria, encontrava-se meia dúzia de caixas de pastilhas (não comprimidos!) para as maleitas mais comuns:
Pastilhas cor de rosa - Para as dores de cabeça (eram Melhoral, acho eu, ou dolviran...sei que eram cor-se rosa)
Melhoral infantil - para estados gripais e dores da criançada
Pastilhas da barrga - Eram acastanhadas e serviam para parar diarreias...
Junto com as caixas havia uma tesoura, imaculada, que só era usada para aquele fim: cortar a quantidade de comprimidos exata que o freguês precisava, que depois eram embrulhado num bocadinho de papel para não se perder...Não me lembro do preço, mas sei que não se desperdiçavam. Comprava-se apenas a quantidade que se precisava. Gostava quando o meu avô ou a minha avó me deixavam assumir aquela tarefa tão importante de vender as pastilhas. Que raramente se pagavam na hora. Escrevia-se no rol do freguês, para pagar no fim do mês.
A Constança precisa duma mascara capilar mas o teu patrão só quer que vendas compotas de abobora com amêndoa. Convence-a a escolher a compota para usar
Se tens o cabelo seco,
Oleoso ou acabado de pintar
Precisas de usar uma máscara capilar
Que não o vá danificar
Esquece os cremes tradicionais,
Nesses não podes encontrar
Tudo o que a compota de abóbora e a amêndoa tem para te dar!
Uma é rica em vitaminas, minerais e zinco,
A outra tem fibras e potássio,
O teu cabelo vai ficar num brinco.
Numa semana complicada foi o que, à pressão se conseguiu arranjar…
"O Amor, uma cabana… e um frigorífico" *
Já tenho o amor,
Só me falta a cabana,
Que até nem me importo,
Que não tenha cama.
Poderemos aproveitar,
Dormir no chão ou no sofá
Agora uma coisa não pode faltar,
O que será?
Agora que sou moça fit
Ensino-vos a minha lição
Gravem-na bem, Ainda vai ser um Hit!
O que não posso dispensar
É um frigorífico para guardar
Frangos, ovos e saladas
Mas hidratos, nem pensar!
Que achas amor?
Temos tudo para isto resultar!
*A minha ode à malta fit deste mundo, pois para onde quer que eu olhe parece que já não há gente “normal”!
Mas esta porra nunca mais anda? Sabia lá eu que depois de morta ainda tinha de esperar para saber para onde ia…quase mais vale ir direta para o inferno. Vai-se a ver e lá até é mais divertido!
Tanta coisa porque ninguém quer este gajo (Hitler)...eu já trato disto!!! Ó São Pedro, ó Lúcifer vejam lá que este á uma boa aquisição! Sortudo de quem ficar com ele!... Vocês não andam com problemas de espaço por aí? São Pedro, Olha que este é perito em arrumar gente em espaços pequeninos… deve funcionar com almas também. E é ótimo também a manter a ordem e o silêncio…não sou de intrigas mas ouvir cantos celestiais o dia inteiro no céu deve ser equivalente a ouvir músicas de natal sem intervalo três meses antes do mesmo… um massacre! Vá lá, fica lá com ele, quero-me despachar! Ficas? Ficas?...
Se havia alguém que a podia ajudar, esse alguém era a Beatriz. Sempre que lhe pedia ajuda, ela ia, deixava outros compromissos e consigo. Mesmo que não se falassem, ou encontrassem há muito tempo, Marta sabia que podia sempre contar com Beatriz.
Marta, ultimamente não tinha sido uma grande amiga e muitas vezes até tinha podia ter feito alguns ajustes à sua agenda para se encontrar com Beatriz, para um café ou quem sabe jantar, mas o tempo ia passando e ela deixava sempre para depois. Beatriz estaria lá sempre, de qualquer maneira.
Decidiu ligar a Beatriz e contar-lhe tudo o que se tinha passado.
Só havia uma coisa com a qual a Marta não contava...A possibilidade de algum dia a Beatriz lhe dizer que não. Foi o que aconteceu. A Beatriz estava cansada de que lhe ligassem apenas quando precisavam da sua ajuda, como se não valesse para além daquilo que sabia e não tivesse mais nada para oferecer...
Decidiu apenas que não, desta vez não ia deixar tudo de lado para ajudar a Marta. Estava na hora de escolher estar apenas com quem queria verdadeiramente a sua companhia. Sentiu-se incrivelmente leve ao dizê-lo, não se sentia culpada por não ir!
Pensando bem, vivera tanto tempo a largar tudo e para ajudar todos os que lhe pediam que se distraiu de si. Não sabia bem quem era, nem o que procurava. De uma coisa tinha a certeza: estava a procurar no lugar errado. O que ela precisava não estava fora. Estava bem dentro dela, pronto a ser descoberto. Aquele NÂO foi o porto de saída de Beatriz para a sua enorme viagem…ao interior.
Já com algum atraso...fica o texto do Tema #3
Tinha apenas 17 anos (certo que quase a fazer 18, mas o que é que se sabe aos 18?) quando entrei na faculdade. Sabia que curso queria seguir desde o 7.º ano. Não me interessava que me dissessem que não tinha “saídas” ou que havia demasiadas pessoas na área. Eu sabia que queria Direito. Mas ter nascido (e viver) numa ilha fazia com que aquele objetivo se tornasse um bocadinho mais difícil de atingir. Não seria a primeira, nem a última, portanto sempre pensei que se os outros conseguem ir, eu também vou. E fui.
Lembro-me que dispensei a companhia do meu pai para me levar porque tinha uma rapariga bem conhecida que entrara para a mesma cidade. Então, juntas de certeza que seria mais fácil, pensava eu.
Mas não foi bem assim. Enquanto não tínhamos tratado do alojamento (que para mim seria uma residência universitária) ficámos na casa de uma amiga da amiga…ora de manhã saíamos e só podíamos regressar ao fim do dia quando a amiga voltasse. Parece que éramos umas sem-abrigo que não tínhamos para onde voltar. Era tão difícil…longe de casa e com esta sensação. Continuo a lembrar-se da sensação como se tivesse sido ontem…
Chorava todos os dias a pensar que queria voltar para casa…era uma angústia constate. A amiga que nos deixou dormir lá em casa ajudou ao nos deixar lá ficar mas…caramba…há menos de um ano ela tinha passado pelo mesmo…como se podia ter esquecido do que era sair de casa e começar uma vida tão diferente…cidade nova, faculdade, colegas…
Pensei que se algum dia me pedissem “abrigo” ao chegar, tentaria fazer diferente…ao menos encaminhar minimamente a pessoa e tornar menos difícil o início.
Depois de encontrar casa e ter finalmente onde colocar as minhas coisas e poder entrar e sair à hora que bem me apetecesse, senti-me logo melhor. Mesmo que tivesse meio quarto (porque era partilhado) era tão bom! Engraçado que a minha colega de quarto também vinha de longe e compreendeu-me bem…ela é, ainda hoje, a minha melhor amiga…
Hoje, 20 anos volvidos desse momento, reconheço que há dores que fazem parte do crescimento, e esta para mim foi uma delas. Das que me ensinou muita, muita coisa.
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